Deitado sobre as nuvens

"Perché da qui il mondo scivola..."

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Prelúdio




Autobiografar, um daqueles verbos que sempre imaginei improvável conjugar. Alguém ousou dizer-me que minha preguiça em escrever era um desperdício do suposto "talento" que tenho pra escrever, expressar meus pensamentos e inquietações, como se o ato de compartilhar tudo isso fosse agregar algum valor à vida de algum ser deste planeta.

Julgar esse valor não é tarefa minha. Atrevo-me, apenas, a mirar minha preguiça e seguir o conselho de uma amiga querida. Era como se seu alerta fosse a gota que faltava pra que pudesse transbordar os devaneios que ficam enclausurados aqui dentro. Não que eu esteja agora a vomitar páginas e mais páginas de texto. Mas me senti à vontade pra arriscar alguns escritos.

Em verdade, o conselho que me foi dado não sugeria autobiografar, mas tão-somente escrever, o que viesse à mente. Depois de algum tempo tentando por ordem no caos dos devaneios, autobiografar pareceu-me sensato, tentador, desafiador, realizável... Sem medo de cair numa vaidade egocêntrica, consciente de meu valente amadorismo.

Imediatamente depois, lembrei-me com gosto de algumas aulas que tive em 2006, quando estudava a vida e obra de personalidades tidas como “grandes educadores brasileiros” (tendo Monteiro Lobato e Anísio Teixeira como os mais vivos até hoje na memória), e o método pra estudá-los era por meio de suas biografias. Os pontos-chave que a professora desejava que seus alunos atentassem nesse estudo passavam pelo entendimento de que pouco da relevância do biografado era resultado de algum acaso, mas sim de uma grande e complicada trama de condições (tanto materiais quanto humanas) e relacionamentos (entre pessoas e situações) que levavam o biografado à sua condição de destaque, como se fosse improvável que algo diferente pudesse suceder em sua vida.

Longe da ideia de que eu seja ou venha a ser alguém publicamente conhecido e/ou reconhecido, guardo daquelas aulas um método que suponho possível de ser aplicado a mim mesmo, como forma de autoconhecimento, como uma viagem ao interior de mim mesmo... Remontando tempos e fatos, estabelecendo relações de causa e efeito, influenciando o devir, fazendo uma grande colagem de uma vida que conheço bem. Algo que há tempos desejei, mas julguei-me incapaz de realizar. Boa sorte pra mim!

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